quinta-feira, 23 de junho de 2011

Saúde bucal e qualidade de vida

A saúde e a qualidade de vida andam de mãos dadas. Não é diferente quando o assunto está relacionado à saúde bucal. O cirurgião-dentista, Dr. Francisco Xavier Paranhos Coêlho Simões, mostra – de maneira simples e objetiva – que a prevenção é sempre a melhor saída.


 
Por: Vanessa Navarro

Odonto Magazine - Como a saúde bucal pode afetar direta­mente na qualidade de vida da população?
Dr. Francisco X. P. C. Simões - A qualidade de vida está di­retamente relacionada com o estado de saúde. Os idosos apre­sentam ausência parcial ou total de dentes, e esta condição in­terfere na mastigação, fonação e na estética. Os alimentos não são processados corretamente, resultando em uma digestão insatisfatória, além de restringir a consistência dos alimentos, sendo mais adequados os alimentos líquidos e pastosos. Uma das funções dos dentes é de cortar e triturar os alimentos. Nesse momento, os alimentos são envolvidos pela saliva, que formará o bolo alimentar e, assim, dará início a primeira fase da diges­tão. Quando o paciente tem restabelecida sua oclusão com as próteses dentárias sua autoestima aumenta. A limitação na mas­tigação dos alimentos pela perda de dentes pode comprometer o processo de digestão, que resulta em problemas de saúde ge­ral. Dor de cabeça pode ser sintoma de desajuste da oclusão, principalmente pela falta de dentes, repercutindo no processo da mastigação e do humor do indivíduo. O profissional deve es­tar apto a realizar o correto diagnóstico e tratamento. Boa saúde bucal significa melhor convivência social, autoconfiança social. A maioria dos problemas bucais é passível de prevenção. Quan­do a saúde bucal está comprometida, resulta em desajustes que irão influenciar em todos os setores da vida. Dores, desconforto, insônias causadas por patologias bucais, tais como as doenças cárie e periodontal, erosões dentárias ou câncer bucal, refletem na saúde e nas atividades escolares e laborativas.
 Odonto Magazine - Há algum tempo a OMS apresentou um documento afirmando que a saúde bucal está entre os cinco primeiros itens que contribuem para a qualidade de vida. O senhor poderia nos explicar essa relação?
Dr. Francisco X. P. C. Simões – A saúde é definida pela Orga­nização Mundial da Saúde como “completo estado de bem-estar físico, mental e social e não meramente a ausência de doença ou enfermidade”. Isso dá a certeza de que não basta estar livre de doenças sistêmicas, mas devem ser considerados outros fatores de saúde da vida do indivíduo, como por exemplo, indicadores que possam mensurar a qualidade de vida. Isso envolve mora­dia, lazer, satisfação pessoal, emprego, remuneração adequada. Esses fatores e muitos outros irão definir o bem-estar do indiví­duo. Essa condição é definida como qualidade de vida, que ain­da pode ser bem entendida como a “percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. A saúde bucal era avaliada somente clinicamente e separada do corpo – além de não ter critérios -, sem visualizar o impacto que a falta de saúde bucal pode in­fluenciar na vida do indivíduo. Hoje existem vários instrumentos que avaliam a qualidade de vida e que contemplam vários fato­res do bem estar do paciente.
 Odonto Magazine – O Brasil conta com programas sociais que têm como missão cuidar da saúde bucal das populações mais carentes. Mesmo com tais facilidades, grande parte dos brasileiros não dá a devida importância para os dentes. Como o senhor explicaria esse descomprometimento das pessoas com a saúde da boca?
Dr. Francisco X. P. C. Simões - Este questionamento pode ser explicado pelo tempo que a saúde bucal não era valorizada, mas de alguns anos para cá, a informação tem chegado à po­pulação de diferentes formas. Os cursos de Odontologia vêm realizando atividades extramuros que motivam as pessoas a dar maior atenção à saúde bucal. Os meios de comunicação (escrita e televisiva) abordam assuntos de interesse da popula­ção, dando ênfase aos cuidados com a saúde bucal e da forma que devem ser cuidada. A televisão tem seu papel importante, pois atinge uma boa parte da população e as pessoas tendem a copiar. O mercado de trabalho também exige boa aparên­cia no vestir, nas atitudes, mas também ter um belo sorriso, o que significa ter uma estética dental. Os últimos resultados do levantamento epidemiológico demonstram que os índices de cárie, de dentes restaurados e perdidos têm diminuído. O sorriso contribui para rejuvenescer as feições, pois estimula a musculatura facial. Mas, para uma parcela da população brasi­leira, o hábito de não sorrir pode ter por trás problemas bucais, como cáries, mau hálito, escurecimento dentário e até mesmo perda da dentição. Nestes últimos anos, o governo federal tem inaugurado vários centros de atendimento, que proporcionam o acesso ao consultório odontológico. É uma questão de tem­po para que outros centros de atendimento sejam implanta­dos, ampliando ainda mais a área de abrangência, permitindo maior acesso das pessoas ao tratamento odontológico.
Odonto Magazine - A perda dos dentes pode causar não só da­nos estéticos, mas também psicológicos e sociais. Como o den­tista pode auxiliar o paciente com tais sensibilidades psicosso­ciais para que o mesmo volte a desfrutar de qualidade de vida?
Dr. Francisco X. P. C. Simões – O ideal é que não ocorra a per­da dos dentes. Para isso, o profissional deve instruir o paciente quais os métodos de prevenção. O Odontopediatra tem papel importante neste processo, motivando seus pacientes para que tenham saúde bucal adequada. A instalação do hábito de higiene bucal na infância resulta em saúde bucal adequada na fase adulta. Os indivíduos que têm perda dentária apresentam maloclusão e estética comprometida. Essa condição também interfere na vida social. O cirurgião-dentista restaura a função e a estética e, consequentemente, a autoestima do paciente. Este terá a mastigação e fonação restabelecida, e estética adequada. O tratamento protético não é privilégio de poucos, a população menos favorecida tem acesso aos centros de atendimento odon­tológico, como faculdades de Odontologia ou unidades odonto­lógicas. Manter os dentes e a boca bem cuidados é o primeiro passo para garantir um sorriso saudável, elevando a autoestima. Para isso, a higienização bucal após as refeições é tão importan­te quanto a visita ao dentista. O mau hálito pode estar relacio­nado ao cuidado com a cavidade bucal. Manter um bom hálito é escovar os dentes e a língua. Pessoas que possui mau hálito pode sofrer discriminação no meio social e no trabalho, com­prometendo o rendimento e a qualidade de vida. Parte da po­pulação procura os consultórios para realização de clareamento dentário – para ter dentes brancos semelhantes aos artistas.
 Odonto Magazine - Com o crescimento acelerado da popu­lação idosa, as patologias bucais aumentam – fator que com­promete a qualidade de vida. Os profissionais de saúde bucal estão preparados para tal realidade?
Dr. Francisco X. P. C. Simões – A população tem mais aces­so aos serviços odontológicos, com o aumento do número de locais de atendimento (faculdades, centros odontológicos municipais e estaduais). A Pesquisa Nacional de Saúde Bucal (SB Brasil 2010) revela que o Brasil passou a integrar o grupo de países com baixa prevalência de cáries. Desde 2003, cres­ceu 30% o número de crianças sem cárie, um reflexo direto da implantação do programa Brasil Sorridente, em 2003, pelo Ministério da Saúde, que passou a oferecer prevenção, trata­mento especializado e reabilitação em todo o país. Salvador, na Bahia, apresenta um dos menores índices de cárie do país (CPOD 1,43 aos 12 anos). Podemos ainda citar alguns dados fornecidos pelo Ministério da Saúde: para indivíduos de 35 a 44 anos o número de dentes perdidos passou de 13,2 para 7,3. Outros dados podem ser encontrados no site do Ministério e demonstram que o Brasil está conseguindo diminuir o número de dentes acometidos por cárie, restaurados e perdidos.
 Odonto Magazine - Sabe-se que a saúde bucal está direta­mente ligada à saúde geral. Como é possível divulgar essa as­serção junto a população e aos pacientes?
Dr. Francisco X. P. C. Simões - Realizando fóruns entre mé­dicos e cirurgiões-dentistas para que a população tenha infor­mação completa e de duas profissões da área de saúde que se completam. As pessoas devem dar maior credibilidade aos cirurgiões-dentistas, que são profissionais da saúde e estão capacitados para esclarecer sobre as consequências da saú­de bucal deficiente na saúde geral. Instalações de centros de atendimento odontológico, como os Centros de Especialidades Odontológicas – que já são 853 em todo o país – são importan­tíssimas. O Programa Brasil Sorridente, do Governo Federal, tem ampliado o número de procedimentos odontológicos, in­cluindo tratamento ortodôntico e implante dentário. Essa ação vem contribuir com a qualidade de vida do indivíduo. Esses programas são divulgados na mídia e chegam à população.
 Odonto Magazine - Como o cirurgião-dentista pode motivar seus pacientes no cuidado da saúde bucal, mostrando-o como um grande facilitador na qualidade de vida?
Dr. Francisco X. P. C. Simões - O cirurgião-dentista orienta a família quanto às técnicas de higiene bucal. Várias formas de motivação são adotadas, tais como: projeção de imagens, víde­os, além da explicação das técnicas preventivas. É importante mostrar imagens das consequências que podem ocorrer em caso da falta de higiene bucal (desde a mancha branca, cavita­ção, até a perda do dente), que resulta em mastigação inade­quada. Deve expor também imagens de como prevenir todas essas situações, como: técnica de escovação, uso do fio dental e enxaguatórios e orientação dietética. O mau hálito é outra con­sequência da falta de higiene, e atrapalha no convívio social.

Dr. Francisco Xavier Paranhos Coêlho Simões 

Cirurgião-Dentista. Especialista em Odontopediatria pela APCD-Bauru. Mestre em Clínicas Odontológicas pela FOUFBA. Doutor em Odontopediatria pela FOUSP. Professor Adjunto de Odontopediatria da EBMSP e UESB.

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